Com resultados financeiros de dar inveja, as franquias parecem ser uma opção de negócio com sucesso garantido. Mas não é bem assim. De fato, o índice de sobrevivência das unidades franqueadas é altíssimo – de cada 100 franquias abertas no Brasil, menos de cinco fecham as portas. Mas se você sonha em comprar uma franquia – e não quer fazer parte das exceções – é bom seguir os conselhos de quem conhece bem esse mercado.
“Tem de trabalhar muito, se esforçar, dedicar-se porque o resultado não vem fácil. O franqueador não é um patrão; franquia não é emprego. Sem comprometimento e ação, não haverá resultados satisfatórios”, diz a advogada Melitha Novoa Prado, consultora jurídica e estratégica especializada em redes de franquia, varejo e cadeias de negócios.
É bom lembrar que as melhores franquias têm processos de seleção bastante rigorosos, e para ser aceito como um franqueado há uma série de exigências que você precisa preencher. Da mesma forma, fique atento para ver se o dono da marca, o franqueador, também preenche os requisitos considerados fundamentais para que a relação entre vocês seja saudável. Só assim o desempenho do negócio vai atender às expectativas de ambos.
Para ajudá-lo a se tornar um franqueado de sucesso, destacamos dez questões importantes no processo que antecede a abertura do negócio. Siga:
1. Você é empreendedor?
Se você quer abrir um negócio, antes de mais nada responda: você é empreendedor? Se morre de medo de que algo possa dar errado, por exemplo, pense um pouco mais. Por melhor que seja a operação de uma franquia, ela envolve riscos e você deve estar preparado para encará-los. Lembre-se: um bom empreendedor aproveita as oportunidades, corre riscos calculados, é persistente, autoconfiante, criativo, habilidoso no relacionamento interpessoal e, acima de tudo, comprometido com a qualidade e eficiência do negócio. Outro ponto importante: muitas franquias procuram um gestor, ou seja, aquele que vai colocar a mão na massa, e não apenas um investidor, que entra apenas com o dinheiro e repassa a administração do negócio para terceiros. Uma recomendação para os menos experientes é procurar cursos de empreendedorismo e se aperfeiçoar. Procure o Sebrae da sua cidade.
2. Você tem perfil para ser franqueado?
Mas se o seu sonho é investir em uma franquia, há outra questão que você não deve esquecer nem por um segundo: um franqueado tem que administrar a franquia de acordo com as regras e padrões predefinidos em contrato com o franqueador. Isso não quer dizer que você tenha que aceitar tudo de cima para baixo. “O sistema de franchising deixou de ser vertical. Hoje ele é horizontal, interativo e bilateral. Quem compra uma franquia quer opinar, participar, questionar”, afirma a advogada Melitha Novoa Prado. Porém, a decisão final sempre será do franqueador ou, pelo menos, do grupo de franqueados. Então, se você é daquelas pessoas que tem dificuldades em se submeter a um sistema já estabelecido, talvez seja melhor montar um negócio sozinho. Uma boa dica é ler a Lei de Franquias (L8955), disponível no link www.planalto.gov.br/ccivil_03/leis/l8955.htm
3. Com quais negócios você se identifica?
Pode parecer uma questão menor, mas a afinidade com a franquia e o segmento em que ela atua são determinantes para o sucesso do empreendimento. A lógica é a seguinte: se você não gosta do que faz, acaba não se dedicando e complicando os resultados. Assim, compare o processo de seleção com a escolha de uma profissão. Um bom sinal é gostar e consumir os produtos da marca, mas só isso não basta. Na maioria das franquias é preciso lidar com o público; portanto, você tem que gostar de pessoas. Nunca esqueça que você terá que passar grande parte dos seus dias na loja, inclusive fins de semana. Se a rotina do negócio lhe parecer enfadonha, parta para outro negócio.
4. Quais franquias se encaixam no seu perfil?
Depois de descobrir que tipo de negócio lhe deixaria feliz, veja quais são as oportunidades que o mercado oferece na região de seu interesse. O guia que você tem em mãos pode ser o ponto de partida. Confira a lista das franquias e selecione aqueles negócios com os quais você tem maior afinidade. E atenção: para Melitha Novoa Prado, é besteira “achar que só são boas as franquias estrangeiras ou as que são bastante conhecidas e reconhecidas no mercado”. Há muitas opções menos “famosas”, mas com ótimos resultados financeiros. Não deixe de conferir se você tem o perfil que o franqueador está buscando.
5. As oportunidades cabem no seu bolso?
O próximo passo é saber se os investimentos iniciais exigidos para montar a franquia são compatíveis com os recursos que você tem disponível, incluindo capital próprio e possibilidades de financiamentos. Outra informação importante é o prazo para retorno do capital investido. Num segundo momento, fique atento a possíveis “pegadinhas”. Segundo o consultor Luis Henrique Stockler, “algumas franqueadoras sugerem um baixo investimento apenas para atrair a atenção do candidato à franquia” e depois apresentam a ficha técnica completa da operação.
6. Quais são as oportunidades disponíveis no mercado?
Selecionadas as opções que lhe agradam e cabem no seu bolso, confira se a região de seu interesse está nos planos de expansão da marca. Em muitos casos, essas informações estão disponíveis nos sites das empresas franqueadoras. Fique atento também à construção de shopping centers e outros centros comerciais, que podem trazer novas oportunidades para a região. Participe de feiras, leia jornais, sites e revistas especializadas para acompanhar as movimentações nesse mercado. Antes de partir para a expansão, a maioria das marcas faz estudos para descobrir o potencial da região para o negócio, mas para não ter dúvidas você pode fazê-los por conta própria também. Fique atento às diferenças de cultura e hábitos: um negócio bem-sucedido no Nordeste pode não ter o mesmo desempenho no Sul.
7. Leia atentamente a COF
Durante o processo de seleção dos candidatos, o franqueador tem que entregar uma Circular de Oferta de Franquia (COF), onde estão detalhados todos os procedimentos e operações do negócio. Leia com muita atenção todos os itens desse documento. “Esta circular é uma obrigação pré-contratual que fará parte integrante do contrato principal, diminuindo, assim, as margens de riscos ou enganos durante a relação contratual”, explica a advogada Iverly Antiqueira Dias Ferreira, do Escritório Katzwinkel & Advogados Associados.
Na COF estão contidas, por exemplo, a lista de franqueados e ex-franqueados da rede; o balanço e as demonstrações financeiras; as pendências judiciais da franqueadora; a situação da marca ou patente junto ao Inpi; a especificação do território; a especificação do investimento para aquisição, implantação e operação da franquia; a indicação do que é oferecido como suporte, tais como manuais e treinamentos; e a situação do franqueado depois que o contrato expirar. “Caso não tenha familiaridade em análise de legislação e contratos, consulte um advogado. É muito importante que você tenha certeza do que vai assinar!”, afirma Claudia Bittencourt.
8. Fale com os franqueados da marca
Já é de praxe, antes de assinar qualquer contrato de franquia: o candidato deve conversar com o maior número possível de franqueados da marca, dos mais antigos aos mais novos, e também com ex-franqueados. Por lei, essa relação deve estar contida na COF. “Verifique o sucesso dos franqueados, checando tanto a parte financeira quanto o relacionamento com o franqueador, se estão satisfeitos ou têm a intenção de abrir novas unidades”, sugere Luis Henrique Stockler. O consultor também aconselha certificar-se com esses franqueados se a rede cumpriu e entregou o que propôs inicialmente nos materiais de venda e na COF. Sempre que possível, vá até a loja para ver com os próprios olhos como a operação funciona.
9. Dê atenção especial ao suporte, treinamento e transferência de know-how
Uma reclamação comum de franqueados insatisfeitos é de que foram abandonados pelos franqueadores alguns meses depois de iniciar a operação. Portanto, escolha franquias que se comprometam contratualmente a dar apoio contínuo na gestão do negócio, além de treinamento para você e seus funcionários. Segundo pesquisa realizada pelo Grupo Bittencourt, especializado em gestão e expansão de redes, o treinamento e o suporte estão entre os fatores de maior peso na decisão do potencial franqueado. Observe com atenção os manuais de operação da unidade, material que deve conter todo o know-how da operação. “Franquia sem transferência de know-how não é franquia”, destaca Claudia Bittencourt.
10. Escolha o ponto certo
“Pertencer a uma boa rede não é o suficiente, é preciso estar no lugar certo”, diz Claudia Bittencourt, referindo-se à escolha do ponto comercial. Segundo a consultora, essa escolha é determinada por cinco questões: onde está o seu público-alvo; o ponto traz visibilidade para o negócio; o local é de fácil acesso para o seu público, seja ele feito de ônibus, carro ou a pé; onde estão os seus concorrentes; o imóvel atende às condições necessárias para o bom funcionamento do negócio. Todos esses itens têm que estar bem alinhados para garantir que o negócio alcance os resultados esperados pelo franqueado e pelo franqueador.
VANTAGENS DE SER FRANQUEADO
1. Associar-se a uma marca consolidada e participar de um conceito já testado;
2. Trocar experiências com o franqueador e com os outros franqueados;
3. Contar com um plano de negócios já elaborado, incluindo planejamento de custos de implantação;
4. Ganhar com a economia de escala, reduzindo custos com propaganda e compras em geral.